quarta-feira, 28 de julho de 2010

A arquitetura sacra paulista e mineira nas regiões cafeeiras - 1

Catedral de N. Sra. do Amparo em fotografia infravermelha
(Amparo - SP)
Tenho visitado nos últimos meses várias cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais, na região em que, nas décadas iniciais do século XX, o café era a grande estrela da produção agrícola. Por ocasião dessas visitas, procurei observar o que poderia ser rotulado de "patrimônio histórico", aquilo que merece, de fato, preservação. Há, em alguns casos, construções já devidamente tombadas, enquanto outras, mesmo sem exibir esse rótulo, não são menos importantes. Acontece que, depois de muito observar e refletir, vejo que, majoritariamente, edifícios de destaque pelo interesse histórico, nos lugares mencionados são, muitas vezes, igrejas.
O que isso significa? Pelo menos três coisas:

1. Sabe-se que, em muitos casos, a colonização e a ocupação do território brasileiro foram feitas com a marca do provisório, descuidadamente, o que obrigou, quase sempre, à substituição das antigas construções por outras "mais modernas". Não é raro ouvir alguém contar: "Aqui era a prefeitura", "era a escola tal", "era a biblioteca"... Isso nos conduz a, no mínimo, duas possibilidades: a primeira, é que construções precárias tenham se deteriorado e por isso foram demolidas, enquanto a segunda é que uma noção distorcida de progresso tenha levado à destruição de prédios mais antigos, ainda que em bom estado, para dar lugar a edifícios novos.

2. Nem sempre os recursos eram abundantes e, dessa forma, deviam ser alocados naquilo que a comunidade valorizava - daí a existência de belos locais de culto mesmo em cidades de potencial econômico restrito. Na prática, as igrejas tornavam-se motivo de orgulho para a população, como um centro da vida social e, sendo mais solidamente construídas, é natural que tenham sobrevivido mais tempo, havendo numerosas que podem ser vistas e visitadas atualmente. A mesma linha de raciocínio explica a razão de muitas delas estarem tão bem preservadas, mesmo em localidades em que as casas particulares, outrora suntuosas, não passam agora de ruínas, ainda que de significativo interesse histórico. Sem contar, é claro, o zelo das autoridades eclesiásticas em cuidar das igrejas sob sua jurisdição.

3. Há igrejas que apresentam um aspecto interessante: tiveram a construção iniciada durante a época de prosperidade decorrente das exportações de café, cuja decadência significou uma pausa nas obras. Nesse caso, há duas possibilidades, pelo menos:
a) A igreja foi terminada, mas modestamente, o que é verificável, por exemplo, quando o exterior é grandioso e a ornamentação interna, muito simples;
b) A igreja teve a construção paralisada e só foi concluída décadas depois, de modo que diversos estilos arquitetônicos, tanto externa quanto internamente, podem ser observados.

Devo acrescentar que as igrejas a que me refiro são templos católicos. Procurei igrejas protestantes que apresentassem o mesmo perfil, mas não encontrei. No entanto, se houver alguma, gostaria de conhecer. Você conhece? Conte-me!
Nas próximas postagens darei alguns detalhes sobre vários dos mais significativos exemplares dessa arquitetura sacra paulista e mineira, para que você, leitor, que eventualmente se interesse em visitar alguns desses lugares, tenha seu apetite histórico aguçado.


Veja também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.