quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Cadeirinhas de arruar - Parte 2

A primeira "cadeira de telhadilho" em São Paulo


Nos tempos coloniais, fazer-se transportar em uma rede já era um luxo, coisa que se concedia às autoridades, às mulheres, aos doentes, porque pressupunha, evidentemente, dispor de ao menos dois carregadores, geralmente escravos. Se a distância a ser percorrida era grande, impunha-se a exigência de ter não apenas dois, mas quatro carregadores, porque era necessário fazer um revezamento. Que folga, pensarão alguns leitores...
Um exemplo, extraído do Compêndio Narrativo do Peregrino da América, ilustrará essa questão do transporte em rede:
"E logo à minha vista contou o dinheiro e lho deu, entregando-lhe também a escrava; e a fez meter em uma rede aos ombros de dois escravos, e ir para a casa de uma parenta dela mesma." (*)
Ora, se nem todo mundo podia ter uma rede e escravos para passear mundo afora, imagine-se então a agitação que deve ter tomado conta da pequenina São Paulo do Século XVII, quando a mulher de Fernão Paes de Barros ousou ser a primeira a fazer-se transportar em uma "cadeira de telhadilho", conforme conta Pedro Taques de Almeida Paes Leme na Nobiliarchia Paulistana:
"Foi casado na cidade do Rio de Janeiro com D. Maria de Mendonça, que, conduzida para esta cidade de São Paulo, teve o tratamento que merecia, como esposa de tão nobre cavalheiro, e fazendo-se conduzir em cadeira de telhadilho, a primeira que até aquele tempo apareceu em São Paulo."
 
(*) PEREIRA, Nuno Marques. Compêndio Narrativo do Peregrino da América. Lisboa: Oficina de Manoel Fernandes da Costa, 1731, p. 196.


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