domingo, 12 de maio de 2013

Fraudes e corrupção nos tempos coloniais - Parte 1

Sendo agrícolas muitas das atividades coloniais, não deve parecer estranho que na prática da agricultura e/ou tarefas a ela relacionadas ocorressem muitos dos atos de fraude e corrupção da época. Igualmente, era no incipiente comércio de vilas e outras povoações que gente depravada encontrava campo fértil para agir. Isso, é claro, sem contar os clássicos corruptos que infectavam a administração colonial, que não poucas vezes era, a respeito, omissa ou conivente.
Não se tem aqui, de modo algum, a pretensão de desvendar toda a intrincada rede de corrupção que permeava a vida colonial. O que se terá, no entanto, nesta e nas próximas postagens, servirá para dar uma ideia do que ocorria. E depois há quem ainda chame Gregório de Matos de "Boca do Inferno". Sim, talvez fosse mesmo, mas muito de suas sátiras se firmava em fatos perversos do quotidiano que o poeta, com habilidade, ousava mencionar, enquanto havia gente que preferia, mesmo detendo o poder de mando, fazer de conta que não observava.

Fraudes no embarque do açúcar para a Europa


Tratando de como era o açúcar posto em caixas de madeira para embarque, Antonil descreve possíveis fraudes:
"A marca do engenho, também de fogo, se põe na mesma testa da caixa, junto ao fundo, no canto da banda direita, para que se possam averiguar as faltas que poderiam haver no encaixamento do açúcar. Porque assim como às vezes nas pipas de breu que vêm de Portugal se acham pedras breadas, e nas peças de pano de linho fino por fora, no meio se acha pano de estopa ou menor número de varas que as que se apontam na face da peça, assim se poderiam mandar nas caixas de açúcar menos arrobas das que se apontam na marca, e, no meio da caixa, açúcar mascavado por branco, como já tem acontecido, por culpa de algum caixeiro infiel." (*)
Cabem aqui duas observações:
a) As fraudes, segundo aponta Antonil, eram via de mão dupla: vinha da Metrópole breu e tecido inferiores àquilo que se supunha comprar, ia da Colônia açúcar inferior em meio ao de alta qualidade. O antigo rei dos hebreus tinha toda razão: nihil sub sole novum...
b) A outra observação é relacionada ao fato de Antonil creditar a fraude no açúcar a "algum caixeiro infiel". Era perfeitamente possível que um caixeiro contratado retirasse açúcar branco e colocasse mascavado, retendo o produto de qualidade para si; mas não se pode deixar de aventar outras origens para a fraude, inclusive por ordem de senhores de engenho, fato que Antonil, seguindo uma lógica comum em seus dias, talvez tenha preferido não enunciar.

(*) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711, pp. 92 e 93.


2 comentários:

  1. Vi no google + que esta comemorando um numero
    expressivo de visualizações, vim deixar minha admiração.
    Pois quando se escreve assunto serio os blogs somente são
    sucesso quando ha trabalho e empenho,
    e é o que vejo por aqui.
    Escrita seria que nos enriquece.
    Sou la dos blogs: http://eunoseossinos.blogspot.com.br/
    http://reflexosespelhandoespalhandoamigos.blogspot.com.br/
    Parabens e bjins

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada! Não perco uma postagem de "Eu, Nós e os Sinos", e recomendo a todo mundo que quiser uma leitura variada e interessante. Pra dizer a verdade, estou realmente impressionada com sua história de vida. Coisa fantástica!

      Excluir

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.