segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A carruagem de Carlos Antonio López, governante paraguaio

⁴⁴Ildefonso Antonio Bermejo era espanhol de nascimento. Convidado por Francisco Solano López, a quem conheceu na Europa, chegou a Asunción como uma espécie de conselheiro político, especialmente para assuntos externos, no ano de 1855. Foi de mala e cuia, como diriam os antigos, levando consigo a jovem esposa que, diante do que viu logo à chegada, quase perdeu os sentidos. De qualquer modo, Bermejo lá permaneceu por cinco anos, tempo mais que suficiente para fazer muitas observações que resultaram na publicação de um livro intitulado Repúblicas Americanas - Episodios de la Vida Privada, Política y Social en la República del Paraguay.
Carlos Antônio López (⁴)
Em 1855 o Paraguai era governado por Carlos Antonio López, pai de Francisco Solano, este último mais conhecido, é certo, por ter governado o Paraguai durante os anos da guerra contra o Brasil. Não é disso, no entanto, que agora nos ocuparemos.
Ildefonso Bermejo, tendo feito suas formais apresentações ao governante paraguaio - oficialmente, o Paraguai era uma República - teve a oportunidade de ver como é que tão importante personagem se conduzia pelas ruas de Asunción. E conta:
"Achei à porta da residência presidencial uma carruagem, (...) à qual estavam presos seis cavalos, cujos arneses eram cordéis (...). Em cada cavalo dos três da esquerda ia montado um soldado da escolta; o primeiro levava um chicote tremendo, e os outros dois controlavam o bridão na mão esquerda, e com a direita empunhavam uma grande espada, que apoiavam sobre o ombro." (¹)
Não imaginem os leitores que, estando a carruagem à porta, saía o presidente e, sem mais cerimônias, tomava seu lugar. Nada disso. Continua Bermejo:
"Quando subi aos corredores da casa do presidente, este saía, vestido de capitão-general e, assim que chegou à porta, soaram as duas trombetas de sua escolta. (...) Os sons das trombetas da escolta estavam muito próximos e, mesmo quando o presidente me falava, eu não o entendia, impedido pelo ruído desagradável daquela marcha estrambótica que tocavam, até que o presidente, exasperado, voltou-se para os trombeteiros e exclamou: Quietos, demônios! Não veem que estamos conversando?" (²)
As surpresas do dia não tinham, porém, acabado. Diante de todo o exagero do cerimonial, Bermejo faria, ainda, uma hilária constatação, ao notar que, de uma janela, três ministros observavam a cena, loucos para correr às respectivas casas, tão logo o presidente se fosse:
"Não estavam ociosos, pois tinham sobre o peitoril da janela um montão de laranjas, que estavam chupando"!!! (³)

(1) BERMEJO, Ildefonso Antonio. Repúblicas Americanas - Episodios de la Vida Privada, Politica y Social en la República del Paraguay. Madrid: R. Labajos, 1873, p. 39.
(2) Ibid., p. 40.
(3) Ibid., pp. 39 e 40. As traduções desta postagem destinam-se ao uso exclusivo no blog História & Outras Histórias.
(4) WASHBURN, Charles A. The History of Paraguay vol. 1. Boston: Lee and Shepard, 1871.


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