quarta-feira, 1 de abril de 2015

Os indígenas do Brasil e os antigos romanos tinham algo em comum

Sinal de combate para os índios coroados,
de acordo com Debret (⁴)
Em fins do Século XVI, Gabriel Soares descreveu assim o método usado pelos tupinambás quando iam à guerra contra uma aldeia inimiga (fosse de outros índios ou uma povoação de portugueses):
"Tanto que os tupinambás chegam a duas jornadas da aldeia de seus contrários, não fazem fogo de dia, por não serem sentidos deles pelos fumos que se veem de longe, e ordenam-se de maneira que possam dar nos contrários de madrugada, e em conjunção de lua cheia, para andarem a derradeira jornada de noite pelo luar, e tomarem seus contrários desapercebidos e descuidados; e em chegando à aldeia dão todos juntos tamanho urro, gritando, que fazem com isso e com suas buzinas e tamboris grande estrondo, e desta maneira dão o seus assalto aos contrários." (¹)
Gabriel Soares não foi o único a referir o hábito entre os indígenas de iniciar o combate com grande alarido. Sabermos, também, por outros autores, que esse costume não se restringia aos tupinambás, sendo antes muito comum entre os povos indígenas do Brasil.
No entanto, culturas muito distintas, grandemente separadas no tempo e no espaço, podem, às vezes, ter costumes semelhantes. Descrevendo os momentos que precederam o combate entre as forças romanas, comandadas por Cipião, e as de Cartago, comandadas por Aníbal (²), até que o confronto principiasse, Políbio de Megalópolis anotou:
"Neste momento, as duas falanges iam lentamente se aproximando com arrogância, exceto aquelas forças que, com Aníbal, tinham vindo da Itália (e que permaneceram no mesmo lugar que desde o início ocupavam). Já próximos, os romanos, com altos gritos - esse é seu costume - e fazendo barulho quando batiam as espadas nos escudos, atacaram." (³)
Os instantes que antecediam um combate deviam ser de grande tensão, quer os contendores fossem romanos e cartagineses, quer fossem povos indígenas do Brasil. Em ambos os casos, gritar e fazer barulho talvez ajudasse a liberar as energias severamente reprimidas. 

(1) SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Rio de Janeiro: Laemmert, 1851, p. 330.
(2) Durante as Guerras Púnicas.
(3) Tradução de Marta Iansen para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(4) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 1. Paris: Firmin Didot Frères, 1834. O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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