quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O pão dos pobres

Lucas Rigaud foi um chef de cozinha que viveu em tempos da segunda metade do Século XVIII e princípio do XIX. Destacava-se por ter sido o cozinheiro de várias casas reais europeias e, nessa rota, acabou trabalhando para suas Majestades Fidelíssimas, os reis de Portugal. Publicou um livro, Cozinheiro Moderno ou Nova Arte da Cozinha, que teve várias edições - afinal, um grandíssimo sucesso, em uma época na qual muita gente era analfabeta.
Pois foi nesse livro que, depois de explicar que o Pão da Rainha "amassa-se com um pouco de sal e fermento de cerveja", que o famoso Rigaud passou a explicar em que consistia o pão da gente pobre do Reino:
"As gentes do campo e a pobre fazem pão de centeio, de trigo misturado com cevada, de milho, de arroz, de castanhas; e outros frutos e raízes para se remediarem em tempos de fome e carestia." (¹)
No Brasil as coisas seriam diferentes. O trigo, cultivado inicialmente na Capitania de São Vicente e, mais tarde, no Rio Grande do Sul, não era suficiente para atender ao consumo de toda a população colonial. Assim, um hábito alimentar indígena - o consumo de farinha de mandioca - seria, em muitos lugares, adotado em lugar do pão, e isso independente de riqueza ou pobreza. Era contingência da colonização. Nieuhof, que esteve no "Brasil Holandês" entre 1640 e 1649, assinalou, em relação aos indígenas que "a natureza [...] lhes deu certo arbusto, cuja raiz, depois de seca e assada, como fazemos ao nosso pão, constitui o alimento comum aos habitantes da América" (²)
Quer os colonos gostassem, quer não, o uso da mandioca e de seus subprodutos foi dominante por muito tempo e, em algumas regiões do Brasil, tem grande importância até hoje.

(1) RIGAUD, Lucas. Cozinheiro Moderno ou Nova Arte da Cozinha 5ª ed. Lisboa: Typografia Lacerdina, 1826, p. 186.
(2) NIEUHOF, Joan. Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil. São Paulo: Livraria Martins, s.d., p. 282.


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