segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Escravos domésticos

Portuguesa com escravos no Rio de Janeiro do Período Joanino,
de acordo com desenho de Thomas Ender (¹)

Fala-se muito sobre os escravizados que trabalhavam nos engenhos de cana-de-açúcar, na mineração ou nas fazendas de café. Mas havia, também, escravos que trabalhavam em casas de famílias das áreas urbanas, e estes tinham, naturalmente, um modo de vida algo diverso em relação àqueles que labutavam em atividades agrícolas ou extrativistas.
Pessoas abastadas adoravam ostentar uma grande escravatura - era um indício externo de riqueza e, por vezes, também de poder. O número de escravos variava, então, com as dimensões da casa e a fortuna dos moradores. C. Schlichthorst, militar alemão contratado como oficial do Segundo Batalhão de Granadeiros ao tempo de D. Pedro I, comparou o costume brasileiro de ter escravos domésticos ao dos europeus que ostentavam vasta criadagem, e observou que, como regra, famílias ricas urbanas (²) tinham entre dez e vinte escravos:
"É uma espécie de vaidade fazer-se servir por muitos, luxo que, como todo exagero, acaba se tornando incômodo. Nas casas ricas, empregam-se geralmente de dez a vinte. [...] Lisonjeia o orgulho do brasileiro ser acompanhado à missa ou aos passeios por longa filha de escravos e escravas, cuja ociosidade como que até causa prazer aos senhores. A mesma coisa ocorre não raras vezes na Europa." (³)
É difícil determinar o quanto trabalhavam os escravos domésticos, e se havia, de fato, alguma ociosidade entre eles, ao menos nos casos de famílias que tinham mais escravos do que o trabalho requeria. Sabemos, porém, que os escravos eram ocupados em uma grande variedade de tarefas: limpar a casa, cozinhar, costurar, bordar, amamentar bebês, cuidar de crianças, conduzir meninos à escola, cuidar de cavalos, conduzir pelas ruas o tílburi ou sege de propriedade da família, buscar água, descartar lixo e outros dejetos, cuidar dos jardins, levar recados, fazer compras, lavar e passar a roupa, carregar cadeirinhas de arruar ou liteiras - a lista poderia ir mais além, mas isto já é suficiente para os leitores que quiserem formar um juízo adequado da movimentação existente, no dia a dia, em uma casa de família de posição econômica elevada. Se havia muitos escravos, talvez o trabalho não fosse tão árduo, mas, com um número menor, as tarefas eram, sem dúvida, mais do que suficientes para garantir a ocupação de todos.

(1) O original pertence à BNDigital; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) No Rio de Janeiro, capital do Império.
(3) SCHLICHTHORST, C. O Rio de Janeiro Como É (1924 - 1926). Brasília: Senado Federal: 2000, p. 149.


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2 comentários:

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