domingo, 21 de março de 2010

Os sinos dobram. Por quê?

A utilidade dos sinos das igrejas, da Idade Média aos nossos dias


Em suas origens, as primeiras comunidades cristãs reuniam-se, ao que tudo indica, em casas de famílias que aderiam à nova fé. Porém, à medida que o cristianismo ganhou espaço na sociedade romana, edifícios próprios para os serviços religiosos começaram a ser construídos. No século IV, Eusébio de Cesareia (em sua História Eclesiástica) relatou como, após o Edito de Milão (313 d.C.) as igrejas destruídas durante décadas de perseguição foram reconstruídas, ao mesmo tempo em que novos templos eram edificados e consagrados. Entretanto, apenas na Idade Média é que as igrejas iriam ganhar a importância e as proporções que as colocariam entre os maiores edifícios públicos. E passariam a ter sinos, também. Por quê?
Você, leitor, quando quer saber as horas, olha para um relógio. Há muitos deles, em todo lugar. Mas nos tempos medievais, quando alguém queria saber as horas, precisava ouvir os sinos das igrejas ou dos mosteiros. Eram os sinos que anunciavam a hora dos serviços religiosos e, quem desejasse comparecer (o que, naqueles dias, significava quase a totalidade da população) tinha nas badaladas um aviso para se preparar. Desse modo, as igrejas prestavam um serviço, criando algum tipo confiável de marcação do tempo, porém chegavam, também, a exercer um grande controle, pois os horários dos serviços religiosos ditavam o ritmo da vida quotidiana.
Somente no século XIX é que os relógios pessoais (de bolso) tornaram-se frequentes - mas até aí o hábito já estava solidificado por séculos de uso, e as igrejas continuaram e continuam a ter sinos para conclamar os fiéis à devoção.
Engana-se, porém, quem imagina que essa fosse a única finalidade dos sinos das igrejas. As badaladas continham códigos que nós, hoje, desconhecemos, mas cujo significado os antigos sabiam muito bem. Assim é que, além do toque habitual para as missas, havia, por exemplo, os chamados de alarme, indicando, talvez, a ocorrência de um incêndio. Nesse caso, esperava-se que todos os moradores das redondezas cooperassem para debelar o fogo, pois bombeiros especializados, como temos atualmente, não existiam. E vale também lembrar aqui um episódio curioso da História do Brasil, quando, já nos últimos dias do Primeiro Reinado, Sua Majestade, D. Pedro I, visitou Minas Gerais, em um momento no qual a maioria dos brasileiros mostrava-se descontente com sua política de aproximação com Portugal, que parecia pôr em risco a independência. Ora, quando o imperador adentrava Ouro Preto, foi efusivamente saudado pelo toque simultâneo dos sinos das (muitíssimas) igrejas, que dobravam a Finados... 
Vale ainda acrescentar que nem sempre os sinos foram alocados em torres, mas à medida que os conhecimentos técnicos permitiram, as igrejas passaram a ter pontos elevados, os campanários, nos quais um conjunto de sinos era instalado, permitindo maior riqueza  sonora, evidentemente, mas criando também um ponto de observação indispensável à segurança das cidades daqueles tempos. De qualquer maneira, como já disse, o hábito estabeleceu-se e, nos nossos dias, quando todos temos um ou mais relógios, quando bombeiros atendem com eficiência e profissionalismo a casos de incêndio e quando os meios de comunicação de massa trazem notícias em tempo real, continuamos a ver igrejas sendo construídas com altas torres, talvez porque, sempre que soam,  os sinos parecem estabelecer um elo entre os devotos de hoje e os do passado, vínculo este que tem sido parte constante do imaginário fundamental na perpetuação do cristianismo como o conhecemos.


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