domingo, 10 de outubro de 2010

Registrando os sons - Parte 3: Na era do fonógrafo, nem tudo era entretenimento

É fato inquestionável que, desde a invenção dos primeiros aparelhos capazes de registrar os sons, as principais aplicações práticas têm sido no ramo do entretenimento. Todavia, logo apareceram outras possibilidades, que incluíam, por exemplo, o registro de eventos considerados "históricos", ou o uso de cilindros e discos para fins didáticos, como professores virtuais, particularmente no campo do ensino de línguas estrangeiras. Chama a atenção, no entanto, esse pequeno trecho que apareceu na revista Vida Paulista, no ano de 1903, no qual é mencionado um livro que propunha aplicações jurídicas para o fonógrafo:
"- O Fonógrafo e suas combinações, nas relações jurídicas, é um estudo feito pelo ilustrado lente da Faculdade de Direito, dr. José Bonifácio de Oliveira Coutinho, que teve a gentileza de nos oferecer um exemplar. Trabalho de grande alcance jurídico e enriquecido com larga cópia de conhecimentos científicos, o dr. Oliveira Coutinho analisa a história do fonógrafo e suas combinações, demonstrando, em relação ao direito, as vantagens que podem advir de seu uso como elemento de prova nos contratos, nas contas correntes, nos testamentos, etc., sem esquecer as vantagens de seu emprego como mensageiro de recados."
Já no nosso século, observamos que, dentre as novas tecnologias, várias têm parecido promissoras para propósitos jurídicos. A título de exemplo, há poucos anos a questão do uso e da confiabilidade dos exames de DNA suscitava ainda debates acalorados entre os especialistas em Direito, sendo seu emprego, agora, suficientemente generalizado. Com a questão das gravações, independente do método, não foi diferente. Hoje consideramos seu uso algo corriqueiro, e profissionais são treinados na verificação da confiabilidade dos registros sonoros para efeitos legais. Mas, em 1903, era de fato uma ideia nova a ser explorada. Naturalmente a possibilidade de usar fonógrafos como "mensageiros de recados" revelou-se pouco frutífera: as secretárias eletrônicas deveriam esperar ainda muitas décadas para assumirem seu posto no quotidiano dos escritórios.


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