terça-feira, 21 de junho de 2011

Sobre o inverno e suas consequências na República Velha

                                                                 O inverno envolto em mantos de geada
                                                                        Cresta a rosa de amor que além se erguera...
                                                                        Ave de arribação, voa, anuncia
                                                                        Da liberdade a santa primavera.
                                                                                Castro Alves, Adeus, Meu Canto

Hoje, 21 de junho, é, oficialmente, início do verão no Hemisfério Norte e do inverno no Hemisfério Sul. Por tradição, as festividades relacionadas ao Solstício de Verão sempre tiveram maior importância do que suas congêneres associadas ao Solstício de Inverno, o que é facilmente compreensível se tivermos em conta o fato de que as primeiras são celebrações associadas ao sol, à luz e aos dias tépidos, sempre mais apreciados que as longas (em alguns lugares longuíssimas) noites de inverno.
Ainda assim, no caso do Brasil, ao menos nas regiões em que há efetivamente uma estação que pode ser chamada de inverno, a época é agradável, não apenas pela óbvia associação às festas juninas, mas por uma série de pequenos prazeres que vêm junto com os dias frios, como é o caso das comidas típicas da época - sopas, fondues, chocolate quente...
Vale lembrar, porém, que já houve tempo em que a chegada dos meses mais frios era, a cada ano, uma fase de grande apreensão para fazendeiros e, por extensão, para governantes do Brasil, particularmente no Estado de São Paulo, no qual a agricultura cafeeira representava, até fins da década de 1920, um papel econômico preponderante. Expliquemos.
A maioria dos cafeicultores buscava capitais junto a instituições financeiras e, como é prática recorrente na agricultura, saldava seus compromissos com a venda da safra. Entretanto, em relação ao café, havia um problema gravíssimo, ou seja, a geada, que por vezes comparecia nos meses mais frios, o que no caso de São Paulo, equivale a dizer, a partir de maio. Nesse caso, um cafeicultor de levara três ou quatro anos formando um cafezal, esperando talvez a partir do quinto ano obter lucros, corria o sério risco de ver seu empreendimento fracassar sob uma eventual geada que podia danificar toda a safra, o que significava afundar em dívidas e até perder a propriedade. Daí o pavor que, nas décadas iniciais do século XX, quando as condições de previsão do tempo eram meramente empíricas, tomava conta dos agricultores quando a temperatura despencava, fossem eles pequenos proprietários ou grandes fazendeiros politicamente muito influentes.
Fato curioso é que, se a safra era ruim, devido às geadas, os cafeicultores tinham problemas, mas se era muito boa, havia problemas também. Por quê? Simples, a safra ruim trazia endividamento, a safra muito boa trazia superprodução e consequente queda nos preços de mercado, a despeito da intervenção estatal no sentido de frear a expansão dos cafezais e garantir o preço mínimo para o produto. Pode imaginar, leitor, o quanto a economia brasileira era refém do café, produto absolutamente dominante na pauta de exportações durante a República Velha!
Mudando levemente de assunto (você verá que quase nadinha), as primeiras décadas do século XX, com a nova realidade trazida pela imigração, foram marcadas por um crescimento - sutil, a princípio - no grau de consciência social. O país saíra, tardiamente, da lógica do escravismo, que muita gente considerava "natural", para uma nova situação em termos de relações de trabalho e de estratificação social. Assim, coisas que nem eram observadas com muito cuidado, começaram, aos poucos, a chamar a atenção. Veja, leitor, essa capa de uma edição de A Cigarra:


Quem quer que tome tempo para analisar as capas da revista em seus muitos números de anos anteriores verá o quanto era ousada a crítica embutida nessa edição (*). Era 1919. O mundo, não só o Brasil, passava por grandes transformações.

(*) Edição de sexta-feira, 1º de agosto de 1919. 
Observação importante: a crítica social contida na capa em análise não invalida o fato de que animais domésticos devem receber proteção adequada no inverno. Ao contrário de animais que vivem livres na natureza, eles não têm como procurar por si mesmos uma caverna para abrigo ou outra proteção qualquer, portanto precisam de nosso cuidado.


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