terça-feira, 5 de junho de 2012

A expansão da malha ferroviária e os confrontos com a população indígena

A "marcha do café", nome que se deu à expansão da área em que esse produto era cultivado, indo do Vale do Paraíba à região central do Estado de São Paulo e, depois, a pontos ainda mais distantes, somente foi possível porque a expansão da malha ferroviária permitia que as safras fossem escoadas em direção ao porto de Santos, de onde eram enviadas para diversos países. Se não fosse assim, o limite para a área cultivável não seria muito elástico, porque, na época, antes que as ferrovias se implantassem, tudo o que se produzia para exportação conduzia-se aos portos nas costas de muares, em tropas, por isso, geralmente numerosas. Ora, quão longe se poderia ir nessas condições? Muito provavelmente, não muito além do que a região onde estava situada a fazenda Ibicaba, grande centro produtor de café (¹).
As ferrovias, a partir das últimas décadas do século XIX, mudaram tudo. Se a terra e o clima fossem favoráveis, podia-se ir cada vez mais longe, produzindo muito, muito café - o que, aliás, contribuiu para a desvalorização do produto, mas isso já é outra questão. Que outro impedimento poderia haver?
Havia. É que as terras mais a oeste eram habitadas. Habitadas por povos indígenas, que iam, obviamente contra sua vontade, sendo empurrados rumo ao interior, ao mesmo tempo em que, por várias razões, sua população decrescia. A revista carioca O Malho referiu-se, com sarcasmo, a esse "fenômeno" em uma edição datada de 22 de setembro de 1906 (²), conforme se pode ver abaixo:


Jorge Tibiriçá,
Presidente estadual entre
1904 e 1908. (⁴)
Cabem, por suposto, algumas explicações. Houve confrontos entre os índios e os  que trabalhavam para expandir a área cultivada, na tentativa de expulsar os primeiros (um mapa da Império chegara a  referir-se ao Oeste geográfico da então Província de São Paulo como sendo habitada por "indígenas ferozes"). O "chefe Tibiriçá" do texto de O Malho é uma referência ao Presidente estadual (³) Jorge Tibiriçá que comandava o Estado de São Paulo nesta fase de expansão tanto das ferrovias quanto da lavoura cafeeira e de outros cultivos agrícolas. Expansão feita, muitas vezes literalmente, a ferro e fogo. Custou também a vida de uma multidão de indígenas, dizimados não apenas pelas balas das armas dos colonos, mas também por enfermidades que lhes eram fatais, como a varíola, por exemplo, em epidemias que não eram meros acidentes. Um autêntico genocídio.

(1) Na época, nos limites de Limeira e Rio Claro, atual município de Cordeirópolis, SP.
(2) O MALHO, Ano V, nº 210, 22 de setembro de 1906.
(3) Os governadores de Estado eram então chamados de presidentes estaduais.
(4) VIDA MODERNA, Ano II, números 29 e 30, 25 de dezembro de 1907.


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