domingo, 9 de setembro de 2012

Reflexões sobre a figura de Antônio Conselheiro, o místico de Canudos

Antônio Conselheiro, nascido Antônio Vicente Mendes Maciel, o líder do movimento de Canudos, é dessas figuras que têm cativado o interesse de uma multidão de especialistas, das mais diversas áreas do conhecimento. Como é que um sujeito simples, sem, aparentemente, nada de especial, pode ter-se tornado o líder de sertanejos desesperançados, diante da miséria e da seca? - eis um motivo para debate, sem que, talvez, nunca se chegue a uma conclusão que abarque toda a problemática que se impõe.
Dele, escreveu Euclides da Cunha em Os Sertões:
"Da mesma forma que o geólogo, interpretando a inclinação e a orientação dos estratos truncados de antigas formações, esboça o perfil de uma montanha extinta, o historiador só pode avaliar a altitude daquele homem, que por si nada valeu, considerando a psicologia da sociedade que o criou. Isolado, ele se perde na turba dos nevróticos vulgares. [...] Mas, posto em função do meio, assombra. [...] Por isto o infeliz, destinado à solicitude dos médicos, veio, impelido por uma potência superior, bater de encontro a uma civilização, indo para a História como poderia ter ido para o hospício."
São muitas as questões que poderiam ser levantadas: Antônio Vicente Mendes Maciel seria Antônio Conselheiro não fora a miséria da população do semiárido, brutalmente agravada pela seca, pela ignorância, pela superstição de natureza religiosa? Seria ele Antônio Conselheiro ainda em nossos dias?
Enquanto o leitor faz suas próprias reflexões, considere ainda que, em fins do Império, já se sabendo que andava a fazer peregrinações sertão afora, solicitou-se, para ele, uma vaga para internação no hospício de alienados no Rio de Janeiro - é o próprio Euclides da Cunha quem o afirma. Entretanto a solicitação foi negada, sob o argumento de que não havia vaga disponível. Ora, o que teria ocorrido se, por hipótese, tivessem capturado o homem, de modo que acabasse recluso em um manicômio? Podemos apenas conjecturar que, possivelmente, Canudos não teria ocorrido, que nunca mais se ouviria falar de Antônio Conselheiro, que talvez nem ficássemos sabendo de sua existência. A certeza, no entanto, é de que as condições miseráveis em que viviam os camponeses nas regiões flageladas pela seca em fins do século XIX, essas, sim, seriam rigorosamente as mesmas.
Fato interessante é que, em tempos passados, a religiosidade estava quase sempre presente em casos de comportamentos, digamos, algo anômalos. Hoje, ao menos nesse aspecto, as coisas seriam diferentes, face à mudança de valores na sociedade.


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