quarta-feira, 3 de abril de 2013

Superstições no Brasil - Parte 1

Casa mal-assombrada


Foi há quinze ou vinte dias. Três femininas gerações caminhavam ao redor de um desses casarões de fazenda, dos tempos áureos do café, agora completamente em ruínas. A menorzinha, uns sete ou oito anos, perguntou:
- Mamãe, é verdade que essa casa é mal-assombrada?
A vovó aparteou:
- Claro que não, meu bem. Não existe casa mal-assombrada.
A pirralhinha, porém, insistiu:
- Existe sim, vó, e todo mundo na escola diz que essa casa é mal-assombrada!
Por suposto, meus leitores, eu não podia tapar os ouvidos para não ouvir a conversa. Não, não sou xereta, não. É que tudo isso me fez pensar em um monte de coisas.
Primeiro, lembrei-me de que quando tinha a idade da netinha, me perguntava se, dizendo as pessoas que tal ou qual lugar era mal-assombrado, existiria também casa bem-assombrada... Podem rir. O que seria, afinal, uma casa bem-assombrada?
Outra coisa - a observação quanto ao casarão em ruínas não vinha do nada. A foto abaixo, de uma das suas janelas que ainda insiste em sobreviver, fala por si mesma, não é? Nem é preciso muita imaginação para supor coisas terríveis à noite em um lugar desses, se durante o dia já é assim.

Urubus na janela do casarão em ruínas de que trata esta postagem
Finalmente, não deixa de ser intrigante como as superstições se propagam e conseguem sobreviver. No caso dessa família, fica evidente que nem a mãe e nem a avó ensinaram tolices à menininha que, no entanto, foi enfática em afirmar que na escola todo mundo diz que a casa é mal-assombrada.
Ora, sejamos otimistas e admitamos que nenhum professor ou professora ensina uma bobagem dessas aos alunos. Ainda assim, a convivência junto a colegas portadores dessas "informações" levou a criança a acreditar na superstição, de preferência a dar crédito ao que diziam mãe e avó. E isso por si só já dá o que pensar, sobre a tal propensão que têm as mentes humanas em voar junto a mil fantasias, nem todas elas tão inofensivas quanto a crença em assombrações. Talvez muitos dos medos da infância consigam, disfarçadamente, sobreviver na mente de gente adulta, que assume que não há mula sem cabeça ou lobo mau, mas que não passa sob uma escada de jeito nenhum. "Yo no creo en brujas, pero..."


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