segunda-feira, 7 de julho de 2014

Conselhos para quem vinha colonizar o Brasil

A gente que vinha ao Brasil, durante o processo a que chamamos colonização, vinha pelas mais diversas razões. Vinha quem queria enriquecer o mais rápido possível, pensando em retornar logo a Portugal; vinha quem devia cumprir funções administrativas em algum cargo para o qual recebera nomeação; vinham os jesuítas, com propósitos relacionados à catequese dos povos indígenas; vinham os condenados ao degredo no Brasil, em razão de crimes cometidos no Reino; vinham, finalmente, os que buscavam aventuras, cuja personalidade os movia a buscar o desconhecido e investigar o mundo.
Mas, fossem quem fossem esses colonizadores, a vida, no Brasil, não lhes seria nada fácil. Assim, Nuno Marques Pereira, autor do Compêndio Narrativo do Peregrino da América, obra que fez muito sucesso no Brasil do Século XVIII, tinha lá seus conselhos para os que vinham à colônia portuguesa na América do Sul. E, o primeiro deles, era que a jornada não deveria ser apenas com a meta de enriquecimento fácil - devia ser o que poderíamos chamar de "jornada espiritual". Quanto idealismo...
Escreveu ele:
"Porém há de ser com tenção de não mudar só de lugar, senão também de costumes, porque é certo que quem peregrina acompanhado de seus vícios, mais valera não haver saído, pois tornará mais perdido que aproveitado, porque as enfermidades da alma não se curam com a mudança do lugar." (¹)
No entanto, não parou aí o aconselhamento. Era preciso, também, vir com a disposição de adaptar-se à nova vida. Uma orientação sábia, certamente:
"O peregrino vai por onde há de achar cada dia novos costumes, e os deve seguir e aprovar, e não repreendê-los; pois é mais razão acomodar-se ao uso da terra que pretender e querer trazer os mais ao costume de sua pátria. Há de considerar que vai obedecer às leis que achar estabelecidas, e não a dar regra aos mais, e que vai aprender, e não ensinar." (²)
E conclui, a título de estímulo ao peregrino/colonizador neófito:
"E peregrinando assim, se qualificará em um perfeito herói." (³)

(1) PEREIRA, Nuno Marques. Compêndio Narrativo do Peregrino da América. Lisboa: Oficina de Manoel Fernandes da Costa, 1731, p. 6.
(2) Ibid., pp. 6 e 7.
(3) Ibid., p. 7.


Veja também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.