segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Embalsamamento de primeira classe no Egito Antigo

O Egito Antigo é famoso por suas múmias - corpos de mortos devidamente embalsamados. Ora, em que é que consistia, afinal, o embalsamamento?
Heródoto de Halicarnasso deixou-nos, disso, um relato interessante. É preciso explicar, antes de mais nada, que havia embalsamamentos de vários preços, e, como é lógico supor, era à família do morto que cabia a decisão quanto ao que se pretendia (ou podia) gastar com o parente falecido.
Sarcófago egípcio (*)
Assim, desde que a família escolhesse um embalsamamento de primeira classe, seriam necessários setenta dias para que o processo se completasse.
Dentre outros procedimentos mencionados por Heródoto, competia aos médicos embalsamadores, uma vez fechado o contrato com a família, remover o cérebro do morto, por meio de ganchos que eram introduzidos através do nariz. Alguns compostos eram postos no lugar. Acabava assim a primeira parte do longo processo.
Em seguida, fazia-se uma abertura abdominal, para remoção de órgãos e limpeza. Sendo esse um procedimento de alto padrão, a cavidade era preenchida com arômatas da melhor qualidade, destacando-se a mirra e uma variedade de canela tipicamente oriental.
Após os setenta dias, o embalsamamento era concluído com o enfaixar do corpo com tecido de linho embebido em goma. Assim preparada, a múmia era posta no sarcófago escolhido pela família, que, de qualquer modo, sempre tinha forma aproximadamente humana.
Depois disso, o destino da múmia podia variar. Um rei ou nobre importante já teria, de antemão, preparado um túmulo para si. Mas havia famílias que simplesmente levavam o sarcófago para casa, e lá ficava ele em um canto, junto à parede... Se considerarmos a importância que davam os egípcios ao que criam ser a vida após a morte, era este, por certo, um destino inglório. A despeito de toda a preparação que alguém fizesse em vida, em última instância o destino de um morto, no Egito, dependia, como em todos os tempos e lugares, da boa ou má vontade dos vivos.

(*) DeHASS, Frank S. Buried Cities Recovered 5ª ed. Philadelphia: Bradley, Garretson & Co., 1883, p. 55.


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2 comentários:

  1. Querida Marta, apesar do meu fascínio pelo Egipto (fiz lá a minha viagem de núpcias), as múmias não me atraem minimamente embora o processo médico-científico fosse fascinante, e muito avançado para a época. Mas os vasos onde guardavam os órgãos, ah.... esses são lindos mesmo.
    Tanto que trouxe um pote representativo desse costume. É pequeno, em barro (não se fazem mais em ouro, suponho, o que os tornaria muito caros e alvo dos ladrões) e a tampa é uma cabeça de chacal. Amo demais aquele pote e olha que eu não sou nada apegada a objectos, com excepção para os meus livros...
    Beijinho, um doce restinho de semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

    P.S. Já se imaginou enfaixada na sala de jantar? Hihi

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    1. Se eu fosse me imaginar em todas as situações com as quais, como historiadora, tenho que trabalhar, ficaria completamente maluca. "Distanciamento crítico" é a fórmula mágica para não me envolver demais (nem emocionalmente, nem com as faixas de linho com trechos do chamado Livro dos Mortos do Egito Antigo). Lol, lol, lol...

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