sexta-feira, 22 de maio de 2015

Um professor dedicado

O trabalho de Anchieta como professor de Gramática no Colégio de São Paulo


O Colégio de São Paulo, iniciado por jesuítas em 1554, teve, de acordo com o padre Simão de Vasconcelos (¹), a segunda classe de Gramática que veio a existir no Brasil, uma vez que a primeira já funcionava no Colégio da Bahia. Diz Vasconcelos que as aulas eram frequentadas por "nossos irmãos e bom número de estudantes brancos e mamelucos, que acudiam das vilas vizinhas" (²).
Quem era o professor?
Ninguém menos que o jovem José de Anchieta. Não era ainda o famoso missionário que, depois de longuíssimo processo (³), acabaria canonizado, mas era um professor que mostrava muita dedicação ao ofício e, a crermos no que escreveu o Padre Simão de Vasconcelos, levava seus alunos a bons resultados, em termos de aprendizagem:
"Lia esta classe o Irmão José de Anchieta, ocupação em que perseverou alguns anos, com grande aproveitamento de seus discípulos, e com maior opinião de sua santidade." (⁴)
As condições de trabalho eram, todavia, precárias. Nada que se parecesse com as salas de aula do Reino, ou mesmo do Colégio da Bahia. Nem livros, sequer, havia para os alunos. Mas desistir não era uma possibilidade:
"O trabalho era excessivo; ainda naquele tempo não havia nestas partes cópia de livros, por onde pudessem os discípulos aprender os preceitos da Gramática.
Esta grande falta remediava a caridade de José à custa de seu suor e trabalho, escrevendo por própria mão tantos cadernos dos ditos preceitos, quantos eram os discípulos que ensinava, passando nisto as noites sem dormir, porque os dias ocupava inteiros nas obrigações do ofício; e acontecia não poucas vezes romper a manhã, e achar a José com a pena na mão." (⁵)
Os jesuítas não estavam, portanto, envolvidos apenas com a catequese dos povos indígenas da América. Lidavam também com o ensino dos colonizadores e seus filhos, razão pela qual criavam classes de Gramática. Por certo isso abria as portas para mais ampla divulgação dos valores defendidos por sua Ordem entre as mentes jovens da Colônia, como parte dos métodos adotados dentro da reação católica à Reforma Protestante (chamada Contrarreforma ou Reforma Católica). Porém, independente da opinião que tenhamos em relação à catequese e doutrinação na América, como não apreciar a dedicação de um professor como Anchieta? 

(1) VASCONCELOS, Pe. Simão de S.J. Crônica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil vol. 1 2ª ed. Lisboa: Fernandes Lopes, 1865.
(2) Ibid., p. 90.
(3) Durou de 1617 a 2014.
(4) VASCONCELOS, Pe. Simão de S.J. Op. cit., p. 90.
(5) Ibid.


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