sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Torneios medievais de cavalaria

A cavalaria teve grande importância social durante a Alta Idade Média. Nobres treinavam, desde a infância, para a excelência em habilidades militares. Embora as querelas entre senhores não fossem raras, nem sempre havia uma guerra de verdade à mão de quem queria ou precisava manter a forma, e, para suprir essa falta, eram realizados os torneios.
Já que a intenção era, também, fazer a maior exibição possível das virtudes guerreiras, não só os cavaleiros eram convidados para as competições. Mulheres, clérigos, nobres em geral, e a turma da diversão - músicos, bobos, etc. - todos compareciam. Montavam-se tendas para acomodar essa gente. Comida e bebida? Certamente havia, e em proporções pantagruélicas.
Como regra geral, os competidores podiam usar apenas armas "cegas", ou seja, sem corte ou pontas agudas, já que o objetivo era apenas fazer com que os oponentes caíssem dos respectivos cavalos. Não obstante, a possibilidade de ferimentos graves, e mesmo de alguma morte, era real. 
Soavam trombetas, começavam os combates, poeira e suor impregnavam a arena. A plateia assistia torcendo freneticamente por seus favoritos, principalmente no caso das damas que se sabiam cortejadas por algum dos competidores. Quem vencia, era aclamado em prosa e verso; suas façanhas, repetidas de boca em boca, acabavam, por vezes, ganhando ares lendários.
Nem sempre, porém, um torneio era apenas festa. Há muitos relatos de cavaleiros que aproveitavam a oportunidade para causar, deliberadamente, danos severos a seus desafetos, ainda que o juramento os obrigasse a competir com lealdade.
Dentro da lógica da cavalaria medieval, os torneios eram importantes como treinamento militar. Eram, também, uma ocasião, digamos, "civilizada", para que os ódios reprimidos encontrassem uma forma legítima de expressão.
Com o declínio da importância militar da cavalaria medieval os torneios foram caindo em desuso. Os cavaleiros usavam armaduras muito pesadas e eram ótimos em lutar a cavalo. A pé, tornavam-se vulneráveis, em especial diante das chuvas de flechas lançadas por exércitos de arqueiros. A introdução das armas de fogo deu, em mais de um sentido, o golpe de misericórdia na cavalaria medieval. A Europa ocidental passava, então, por grandes mudanças, novas táticas e mesmo novas tecnologias foram introduzidas no combate. Já não fazia sentido treinar cavaleiros que não teriam uso prático nas guerras.

Exércitos medievais em combate (cavaleiros e arqueiros),
de acordo com um manuscrito francês do Século XV (*)
Ah, mas havia quem não concordasse... 
Os leitores já sabem: falo do ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha,  exemplo acabado de heroísmo às avessas, correndo mundo montado em Rocinante, tendo Sancho por escudeiro e (como todo cavaleiro andante), em busca de façanhas que fizessem por merecer o amor de sua Dulcineia de Toboso. Mas o impiedoso Cervantes fez com que tudo lhe saísse muito mal.
O que tornava o Quixote ridículo? O exagero e, principalmente, o anacronismo. Preciosa lição para nossos dias

(*) ____________ Illuminated Manuscripts and Miniatures. Londres: Maggs Bros.. s.d. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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2 comentários:

  1. D. Quixote foi, é, e será eterna lição...
    Um dos grandes clássicos, sem dúvida!

    Um beijinho :)

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    1. Por isso é que continua a ser amado, mesmo séculos depois.

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