quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A implantação de ferrovias e o desenvolvimento da lavoura cafeeira em São Paulo

Que impacto exerceu a implantação de ferrovias no Estado de São Paulo? Segundo dados citados por Adolpho Augusto Pinto em História da Viação Pública em de São Paulo (¹), no ano em que foi inaugurado o primeiro trecho ferroviário na então Província de São Paulo, a situação era a seguinte:


Já na entrada do Século XX podia ser constatada uma mudança radical:


Muita coisa aconteceu nesses poucos anos. O Brasil, que era um Império, viera a ser uma República, de modo que a antiga Província agora recebia o nome de Estado de São Paulo. O trabalho escravo fora extinto e os trens vinham de Santos apinhados de imigrantes que jogavam todas as suas esperanças nas férteis terras do chamado Oeste Paulista (²). A virada econômica, para Adolpho Augusto Pinto, um entusiasta das ferrovias, era decorrente da implantação dos "caminhos de ferro":
"Pois bem, aparece o caminho de ferro, aperfeiçoa-se a viação pública, e o resultado é como se no organismo social se tivesse inoculado o seu princípio vital. [...]." (³)
Ora, leitores, seria ingenuidade supor que a simples implantação de ferrovias produziu essa mágica. As ferrovias - muito importantes, sim - foram estabelecidas porque havia uma demanda por transportes que justificava o investimento. Por outro lado, é forçoso considerar que, havendo ferrovias, era mais fácil exportar café e o produto chegava ao porto em melhores condições para satisfazer às exigências do mercado. Compensava, pois, expandir a lavoura, e isso se fez com tal exagero que, por superprodução, acarretou um decréscimo nos preços internacionais do café (embora essa não fosse a única causa).
Para produzir mais, nas condições vigentes no Brasil do Século XIX, em que predominava baixíssima mecanização da agricultura, era necessário mão de obra além da já existente no País, daí a ênfase na imigração, secundada pela situação política e econômica na Europa. Populações que se viam sem perspectivas favoráveis no país de origem vinham buscar novas oportunidades no Continente Americano.
No limiar do Século XX, São Paulo não era só café. Mas era principalmente café. As ferrovias foram, em parte, causa e consequência para esse cenário. 

(1) PINTO, Adolpho Augusto. História da Viação Pública de São Paulo. São Paulo: Typographia e Papelaria de Vanorden & Cia., 1903, p. 315.
(2) Que não correspondia ao Oeste geográfico do Estado de São Paulo.
(3) PINTO, Adolpho Augusto. Op. cit., p. 315.


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