segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Macacos das florestas brasileiras

Cairara da Amazônia

Descrevendo as florestas brasileiras, Alphonse de Beauchamp observou, em obra publicada na segunda década do Século XIX:
"Os macacos viajam por meio destes labirintos selvagens, e neles se balançam pela cauda." (¹)
De fato, no imaginário popular, as florestas brasileiras estavam cheias de macacos, de modo que quem ousava enfrentar as dificuldades inerentes às viagens no Século XIX tinha a ideia de que logo iria topar, aqui e ali, com bandos de primatas irrequietos e barulhentos. No entanto, dependendo da região que alguém visitasse, a expectativa podia ser frustrada. Os macacos estariam lá - como não? - mas sem o estardalhaço imaginado. Um relato feito por Elizabeth Cary Agassiz (²) é bom exemplo:
"Nós nos deixamos ir por um igarapé abaixo, encantador, e pela primeira vez pude ver macacos trepados nas árvores, à beira d'água. Quando se chega ao Amazonas, imagina-se que se vão ver tais animais tão frequentemente como entre nós os esquilos; mas, embora sejam numerosíssimos, é bem raro que os consigamos ver de perto, tão grande é o medo que eles têm." (³)
Macaco-prego
A pesquisadora americana não estava errada. Ainda hoje, os macacos da Amazônia parecem menos ruidosos que os de outras áreas do Brasil, como eu mesma já constatei. Duvido, no entanto, que o silêncio seja resultante do medo da aproximação de humanos. É mais aceitável que seja precaução, para evitar uma exposição indevida a predadores. A Floresta Amazônica, como muitos têm notado, parece, às vezes, demasiado silenciosa, a despeito da vibrante explosão de vida que lá se encontra.
Por outro lado, há lugares em que os macacos não só fazem uma algazarra incrível, como são até muito amistosos. Um dia desses fui a um lugar, no Brasil Central, no qual sabia haver boa chance de encontrar uma porção de primatinhas. Estava preparando meu equipamento de fotografia quando um deles, comendo alguma coisa, veio em minha direção. Acreditem, leitores: a criaturinha gentilmente estendeu a mão, mostrando uma lagarta, como que perguntando se eu queria participar do lanche. Respondi: Obrigada, acabei de almoçar. Bom apetite!...
Não iria perder a oportunidade de registrar o momento. Meu simpático amiguinho está aí, na foto acima à esquerda, para que vocês possam conhecê-lo.

(1) BEAUCHAMP, Affonso de. História do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Régia, 1818, p. 85.
(2) Participou da Expedição Thayer, nos anos 1865 e 1866.
(3) AGASSIZ, Jean Louis R. et AGASSIZ, Elizabeth Cary. Viagem ao Brasil 1865 - 1866. Brasília: Senado Federal, 2000, p. 227.


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