terça-feira, 24 de outubro de 2017

Lavradores de cana-de-açúcar no Brasil Colonial

Ferramentas de um trabalhador rural
Nos tempos coloniais eram chamados "lavradores de cana-de-açúcar" os indivíduos livres, quase sempre sem capital para implantar um engenho, que cultivavam cana-de-açúcar servindo-se de trabalho escravo. A cana que produziam era fornecida para algum engenho das redondezas.
Frei Vicente do Salvador, em sua História do Brasil (¹), afirmou que na terceira década do Século XVII a Bahia tinha "cinquenta engenhos de açúcar, e para cada engenho mais de dez lavradores de canas". Portanto, os engenhos, além de utilizarem sua própria safra de cana para fazer açúcar, compravam ainda a produção de vários lavradores. Como era pouco comum a circulação de moeda nesse tempo, o açúcar que disso resultava era repartido entre o senhor de engenho e cada lavrador, em proporções previamente estabelecidas (²).
Sabe-se, porém, que as técnicas agrícolas empregadas pelos lavradores de cana-de-açúcar em suas respectivas propriedades eram, como regra geral, bastante primitivas. José Caetano Gomes, que queria sugerir melhorias no cultivo da cana, escreveu, quando já expirava o Século XVIII:
"Alguns lavradores, raríssimos, se têm servido do arado para fazer os regos, e de algum estrume nas terras já cansadas, porém o número é tão diminuto, que não merece entrar em linha de conta; o geral é limpar a terra a braço (³), ajuntar o capim, fazer covas com a enxada sem alinhamento, plantar sem estercar, fazer toda a plantação em um ou dois partidos, fugindo de terras virgens, porque assim como as muito estercadas ou estrumadas, fazem a cana a que se chama taioba, quero dizer, muito aquosa, muito oleosa e pouco açucarada." (⁴)
Técnicas agrícolas rudimentares, uso de enxadas como máximo de modernidade, pouco ou nenhum cuidado com a conservação do solo e, além de tudo isso, trabalho escravo. Poderia ser pior?

(1) O manuscrito foi concluído por volta de 1627.
(2) Era frequente que fosse metade para cada um.
(3) Dos escravos, certamente.
(4) GOMES, José Caetano. Memória Sobre a Cultura e Produtos da Cana-de-Açúcar. Lisboa: Casa Literária do Arco do Cego, 1800, p. 3.


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2 comentários:

  1. Respostas
    1. Foi exatamente com uma reflexão sobre os custos (em todos os aspectos) exigidos pela produção de açúcar que Antonil encerrou seu célebre livro no começo do Século XVIII.

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