terça-feira, 20 de março de 2018

Para reduzir o número de casamentos

Frequentemente ouvimos dizer que o índice de divórcios está bastante elevado, a despeito dos esforços de conselheiros matrimoniais, terapeutas de casais e mais gente especializada. Pois bem, leitores, na falta de uma fórmula mágica para acabar com os divórcios, vai aqui uma para reduzir - substancialmente - o número de casamentos. A prática, corrente entre os mundurucus, impressionou viajantes e exploradores do território brasileiro no Século XIX, e ainda hoje é adotada, com pequenas variações, por alguns grupos indígenas. Mas vamos ao que interessa, conforme exposto no Itinerário e Trabalhos da Comissão de Estudos da Estrada de Ferro do Madeira e Mamoré:
"Os mundurucus infligem àqueles que se querem casar as mais severas provas e extravagantes torturas. Ao índio que pede a noiva em casamento é aplicado um aparelho de palha trançada, cheio de formigas tocandeiras (¹), ao braço direito, sendo o desgraçado mordido por espaço de seis horas. Se antes desse prazo a dor o forçar a arrancar do braço o aparelho, é impossível a união: não podendo suportar o mal das formigas, também não poderá defender a mulher da cobiça dos estranhos." (²)
Deixando de lado o fato de que a finalidade do teste talvez seja interpretação de quem escreveu o relato da expedição de 1883, devo informar que a mesma obra faz referência a uma prova semelhante entre os maués (³). É possível que vocês, leitores, nunca tenham visto uma formiga tucandeira. Pois eu já vi, e posso assegurar-lhes: seriam um ingrediente da maior perfeição para um filme de terror, cujo título poderia ser "O Ataque das Tucandeiras"... Reconheço, faltou criatividade. Quem pensaria em ser o roteirista?

(1) Também chamadas tucandeiras ou tocandiras.
(2) _____________ Itinerário e Trabalhos da Comissão de Estudos da Estrada de Ferro do Madeira e Mamoré. Rio de Janeiro: Soares e Niemeyer, 1885, p. 130.

4 comentários:

  1. Coitado do pobre apaixonado. Não eram nada brandos. Será que alguns menos tolerantes à dor não fugiam com a noiva depois do fracasso?
    De qualquer forma, as formigas também podiam ser aplicadas como terapia matrimonial, o que acha?
    Beijinho, uma linda semana
    Ruthia

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    1. Entendamos o "procedimento" em seu contexto cultural: suportar as horríveis formigas era prova de coragem e valentia. Por isso, não seria razoável querer fugir. Além disso, fugir para onde, em meio à floresta?

      Tenha uma ótima semana!

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  2. Respostas
    1. É preciso respeitar as diferenças culturais, mas, convenhamos, esse teste para quem quer se casar é cruel!...

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