quinta-feira, 24 de maio de 2012

Em busca do ouro: A técnica de extração aurífera usada no Brasil Colonial

Na postagem anterior mencionei o fato de que os métodos de extração aurífera empregados no Brasil Colonial, e mesmo mais tarde, eram extremamente primitivos. Essa observação não vale apenas para a região das Gerais, mas estende-se ao restante da Colônia, como se poderá facilmente notar por este interessante relato de Hércules Florence, feito um pouco depois da Independência, a propósito da mineração em Cuiabá:
"Cuiabá deve sua fundação à grande quantidade de ouro que deu o terreno em que assenta, cujas escavações e buracos atestam hoje quanto foi revolvido. [...]." (¹)
Passa então a descrever como se organizou a ocupação do território do novo eldorado cuiabano (se é que ao que ocorria na época podia dar-se o nome de organização) :
"Reuniram-se logo multidões de aventureiros que formaram novas expedições [...]. O número foi crescendo e com ele aparecendo dissensões e lutas causadas pela avidez em tirar ouro. Então cuidaram de constituir uma espécie de governo e para legalizá-lo mandaram pedir chefe em São Paulo. A colônia, debaixo do nome de Cuiabá, nome dos índios que aí habitavam, fez rápidos progressos, aumentando continuamente com a chegada de novas bandeiras, que, não se satisfazendo mais com o que encontravam, seguiram para diante e foram descobrir, a cem léguas para Oeste, Mato Grosso, donde provém a denominação de toda a província." (²)
Um garimpeiro à procura de ouro, conforme
retratado em um selo postal
dos Correios do Brasil
Vem, por fim, a descrição do método que se empregava na extração do ouro, e que é justamente a informação que desejamos:
"O modo de extrair ouro é o seguinte: fazem-se grandes escavações e transporta-se a terra, à medida que se a vai tirando, para uma área preparada à beira de um rio, córrego ou lagoa em paralelogramo de terra batida e conseguintemente dura, cujos lados são fechados por tábuas, exceto o que encosta à água. O plano é inclinado e o todo se chama uma canoa. Deposita-se a terra que se quer lavar na parte superior e sobre ela lança o trabalhador de contínuo água para que facilmente corra a porção que for mais destacada e leve. Em seguida, depois de repetida a operação, põe ele certa quantidade na beira de uma espécie de alguidar de pau chamado bateia e com um pouco de água imprime ao todo um movimento circular, de modo que de cada vez o monte de terra seja lambido pela água. Se houver ouro, as menores partículas depositam-se no fundo." (³)
Para concluir, quero lembrar a meus leitores que, ao contrário do que ocorria nas Gerais, em Mato Grosso nem sempre havia água abundante para lavagem do ouro, o que tornava o processo mais dificultoso, mas, em todo o caso, a técnica era, em sua base, exatamente a mesma. Não fica, pois, difícil, entender porque o desperdício era grande, já que o ouro explorado era, via de regra, apenas o superficial. É isso que explica o chamado "esgotamento" das minas, que somente viria a ser superado quando a introdução de uma nova tecnologia de prospecção e exploração trouxesse a possibilidade de um melhor aproveitamento das riquezas disponíveis nas jazidas.

(1) FLORENCE, Hércules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829. Brasília: Ed. Senado Federal, 2007, p. 126.
(2) Ibid.
(3) Ibid., pp. 126 e 127.


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